SÓ A BRINCAR
Quando
me virem a montar blocos
A
construir casas, prédios, cidades
Não
digam que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender sobre o equilíbrio e as formas
Um
dia, posso vir a ser engenheiro ou arquiteto.
Quando
me virem a fantasiar
A
fazer comidinha, a cuidar das bonecas
Não
pensem que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a cuidar de mim e dos outros
Um dia, posso
vir a ser mãe ou pai.
Quando
me virem coberto de tinta
Ou
a pintar, ou a esculpir e a moldar barro
Não
digam que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a expressar-me e a criar
Um
dia, posso vir a ser artista ou inventor.
Quando
me virem sentado
A
ler para uma plateia imaginária
Não
riam e achem que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a comunicar e a interpretar
Um
dia, posso vir a ser professor ou ator.
Quando
me virem à procura de insetos no mato
Ou
a encher os meus bolsos com bugigangas
Não
achem que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a prestar atenção e a explorar
Um
dia, posso vir a ser cientista.
Quando
me virem mergulhado num puzzle
Ou
nalgum jogo da escola
Não
pensem que perco tempo a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a resolver problemas e a concentrar-me
Um
dia posso vir a ser empresário.
Quando
me virem a cozinhar e a provar comida
Não
achem, porque estou a gostar, que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a seguir as instruções e a descobrir as diferenças
Um
dia, posso vir a ser Chefe.
Quando
me virem a pular, a saltar a correr e a movimentar-me
Não
digam que estou só a brincar
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender como funciona o meu corpo
Um
dia posso vir a ser médico, enfermeiro ou atleta.
Quando
me perguntarem o que fiz hoje na escola
E
eu disser que brinquei
Não
me entendam mal
Porque
a brincar, estou a aprender
A
aprender a trabalhar com prazer e eficiência
Estou
a preparar-me para o futuro
Hoje, sou criança e o meu trabalho é brincar.
(Poema de origem desconhecida)
"... A ciência diz: o corpo é uma maquina.
A publicidade diz: o corpo é um negócio.
O corpo diz: eu sou uma festa."
( Eduardo Galeano - Janela sobre o corpo )
Sabemos
que o brincar é um direito da criança como apresentam diversos documentos
internacionais:
"... A criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos
jogos e às atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins
visados pela educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se por
favorecer o gozo deste direito".
(Declaração universal dos direitos da criança, 1959)
A criança para ser feliz precisa de muita coisa, mas, em especial ela
precisa de:
Brincar é sentir o prazer das
sensações extremas, é tentar conhecer os próprios limites, é sair por instantes
da realidade, é a entrega aos sentidos, é elevar os pensamentos até o nada, é
igualar a alma às dos poetas:
Parábola da Sede
Sete
educadores se perderam em uma região seca, de terreno arenoso, de vegetações
rasteiras e retorcidas.
Perdidos, caminharam. Caminharam perdidamente.
Finalmente, felizmente, os sete educadores encontraram um fio d’água, um córrego, um riacho.
Entretanto, habituados à torneira, os sete educadores se contentaram em avaliar o enorme desperdício de água.
E os sete educadores morreram de sede para sempre.
Perdidos, caminharam. Caminharam perdidamente.
Finalmente, felizmente, os sete educadores encontraram um fio d’água, um córrego, um riacho.
Entretanto, habituados à torneira, os sete educadores se contentaram em avaliar o enorme desperdício de água.
E os sete educadores morreram de sede para sempre.
Nós, educadores – pais, tio, avós, professores -, precisamos beber
desta água que corre, água-infância, que está ao alcance do nosso coração, das
nossas mãos e da nossa inteligência.
Dentre vários pontos de vista:
• do ponto de
vista filosófico, o brincar é abordado como um mecanismo para contrapor
à racionalidade. A emoção deverá estar junto na ação humana tanto quanto a
razão;
• do ponto de
vista sociológico, o brincar tem sido visto como a forma mais pura de inserção
da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando crenças,
costumes, regras, leis e hábitos do meio em que vive;
• do ponto de
vista psicológico, o brincar está presente em todo o desenvolvimento da
criança nas diferentes formas de modificação de seu comportamento;
• do ponto de
vista da criatividade, tanto o ato de brincar como o ato criativo estão
centrados na busca do “eu”. É no brincar que se pode ser criativo, e é no criar
que se brinca com as imagens e signos fazendo uso do próprio potencial;
• do ponto de
vista pedagógico, o brincar tem-se revelado como uma estratégia poderosa
para a criança aprender.
Brincando, a criança
aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva,
valoriza sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita sua
imaginação, sua criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla
suas emoções, sua necessidade de conhecer e reinventar e, assim, constrói seus
conhecimentos.
Enquanto
a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de signos e
instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a apropriação ativa
da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar é análogo a
aprender.
O lúdico proporciona um desenvolvimento
sadio e harmonioso, sendo uma tendência instintiva da criança. Ao brincar, a criança
aumenta a independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza
a cultura popular, desenvolve habilidades motoras, diminui a agressividade,
exercita a imaginação, promovendo assim, o desenvolvimento
criatividade, aprimora a inteligência
emocional, o crescimento mental e a adaptação social.
O lúdico é essencial para uma escola
que se proponha não somente ao sucesso pedagógico, mas também à formação do
cidadão, porque a conseqüência imediata dessa ação educativa é a aprendizagem
em todas as dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal.
Prô Lúcia Martinelli – 7/10
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